Crônica de Georgeta Gonçalves
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Loja de componentes eletrônicos no chópim. O cara, uns mais de sessenta, espumava quando entrei. Do lado de dentro do balcão a moça bonitinha muda como um peixe, olhando o nada.
– Você me explicou onde era a outra loja mas não disse que era do mesmo dono e que estava fechada. Por que me fez ir até lá se podia ter telefonado e perguntado?
A moça muda.
– Você pode pelo menos me responder?
A moça muda.
Aí deu. O cara deu mesmo um berro.
– VOCÊ SABIA QUE A OUTRA LOJA ESTAVA FECHADA?
– Está aberta. A moça devia estar no banheiro.
– Então liga lá e pergunta se tem o raio do cartucho.
A moça digitou… mas achei que ela não estava ligando de verdade.
– Não atende. A moça deve estar no banheiro…
Aí eu não aguentei e entrei na farra e falei para o cara:
– Se ela está no banheiro todo esse tempo pode ter morrido lá dentro. Um amigo meu morreu assim. Caiu e bateu a cabeça na pia. Só acharam no dia seguinte. Não é melhor ligar para a polícia? Ou SAMU? Quer que eu ligue?
Acho que aí a moça saiu do transe. E ligou. Do outro lado alguém disse que não tinha o cartucho.
Mocinha má.
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